Nota
“Só porque algo é inventado, não significa que não possa ser verdade”
Olive Penderghast, uma estudante impopular do ensino médio, decide inventar para sua melhor amiga, Rhiannon Abernathy, que perdeu a virgindade com um cara da faculdade, uma mentira inocente para escapar de um final de semana entediante. No entanto, Marianne Bryant, uma religiosa e fofoqueira da escola, escuta tudo, fazendo a história se espalhar rapidamente pela escola, e ela passa a ser vista como alguém com uma vida sexual muito mais ativa do que realmente tem. Ao perceber o poder que os boatos lhe dão, Olive decide embarcar nessa realidade distorcida, mantendo sua fama e cobrando a rapazes, também considerados impopulares, para fingir ter saído com eles.
Lançado em 2010, o longa dirigido por Will Gluck é uma das comédias adolescentes mais inteligentes do século XXI. Inspirado em A Letra Escarlate, o filme reconta a jornada de Hester Prynne sob uma ótima mais moderna e adolescente, com a protagonista sendo uma aluna comum que se vê no centro de uma onda de fofocas após mentir sobre ter perdido a virgindade. O que começa como um comentário inocente logo se transforma em um espetáculo moralista dentro da escola, e Olive, em vez de recuar, decide encarnar o papel de “pecadora escarlate” com muito sarcasmo, um guarda-roupa provocador e consciência crítica.
O que diferencia A Mentira de tantas outras comédias colegiais é a maneira como ela combina humor ágil com reflexões sérias sobre reputação, sexualidade e julgamento social. Emma Stone entrega aqui a performance que definiu sua carreira: Olive é espirituosa, autêntica e dona de uma narrativa que se constrói em primeira pessoa — literalmente, já que o filme se estrutura como uma espécie de diário em vídeo que ela grava para se explicar. É essa quebra da quarta parede que aproxima o espectador, transformando a comédia em confissão, e a sátira em comentário social.
A direção é ágil, o roteiro é repleto de referências pop e literárias, e os coadjuvantes brilham — Patricia Clarkson e Stanley Tucci, como os pais de Olive, são um show à parte, subvertendo o estereótipo dos adultos ausentes ou moralistas tão comuns no gênero. Há ainda um frescor narrativo que resgata o espírito das comédias adolescentes dos anos 80 (com direito até a homenagem a Curtindo a Vida Adoidado), mas com um olhar moderno sobre a exposição, a pressão social e o papel feminino.
A Mentira é um filme que fala com uma geração acostumada a se definir por rótulos, e desafia justamente esses rótulos. Ao assumir o controle da narrativa, Olive nos lembra que há poder em contar a própria história, mesmo (ou principalmente) quando os outros tentam te reduzir a uma versão conveniente.
Icaro Augusto

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.