Host Indica | Arlindo

“Talvez, se tudo fosse diferente, eu não teria essa vontade de correr, de ir embora, que bate o tempo todo. Mas se fosse assim, eu não seria quem eu sou. E essa não é uma opção.”

Arlindo Júnior é um garoto cheio de sonhos, que ainda não encontrou o seu lugar no mundo. Enquanto não se encontra, ele tenta seguir com sua vida de adolescente na cidadezinha onde mora, no interior do Rio Grande do Norte. Mas, por mais que se esforce, muita gente na cidade não aceita Arlindo como ele é – o que traz uma série de problemas na escola e dentro de sua casa.

Enquanto aluga filmes na locadora, ajuda sua mãe com os doces que ela vende, cuida de sua irmã mais nova, canta muito Sandy & Júnior no chuveiro e sente seu coração bater mais forte pelas primeiras paqueras, Arlindo vai percebendo que vale a pena lutar para ser quem ele é e que, talvez, ele não esteja tão sozinho quanto pensa.

“Tudo que a gente tem é a gente, Lindo. A gente não tá errado em existir! A gente não devia viver com medo de gostar de ninguém, nem de ser a gente mesmo.”

Nos últimos anos, as webcomics se tornaram uma verdadeira febre nas redes sociais, conquistando uma legião de fãs e abrindo novas oportunidades para artistas que antes tinham pouca visibilidade. Nesse cenário, Luísa de Souza, mais conhecida como Ilustralu, se destacou ao criar uma das histórias mais sensíveis e nostálgicas, tocando profundamente seu público de uma forma única. Lançada como uma webcomic semanal, Arlindo é um mergulho na nostalgia, alcançando especialmente o público LGBTQIAP+ que cresceu nos anos 2000, de maneira peculiar e cativante. Luísa consegue construir uma trama que aborda tópicos sensíveis, trazendo um enredo sobre descobertas e aceitação de forma impecável para seu público.

À medida que acompanhamos a história, somos convidados a entender os altos e baixos de um adolescente que busca se encontrar e tem medo de nunca ser aceito como realmente é. As frases maldosas, olhares atravessados e até mesmo a violência física e psicológica são abordados de forma brilhante, revelando o sofrimento e o terror enfrentados pela comunidade em seu processos de autoconhecimento.

Arlindo enfrenta esses horrores até mesmo nos lugares que deveriam ser seus portos seguros, refletindo a realidade de muitos jovens que não encontram aceitação nem mesmo em suas famílias. Um dos grandes pontos dessa narrativa é o relacionamento do protagonista com seu pai, que revela o receio de Arlindo em demonstrar os pequenos prazeres que o definem. Ele vive sob constante vigilância, evitando se mostrar “afeminado” ou fazer coisas consideradas “para garotas”, com medo de que qualquer pequeno gesto provoque uma explosão de raiva de seu progenitor.

“Painho não foi brabo assim a vida toda, sabe? Ele gostava de mim. Mainha era mais feliz. Só faz tempo.”

Embora o personagem viva repleto de temores, em outros aspectos ele floresce, proporcionando momentos que aquecem nossos corações com uma alegria genuína. A relação de Lindo com as mulheres de sua família é magnífica, refletindo todo o cuidado e carinho que elas têm em sua vida. Cada uma delas desempenha um papel crucial na construção do protagonista, oferecendo-lhe a força necessária para enfrentar os desafios que surgem em seu caminho.

Além do protagonista encantador, os quadrinhos oferecem espaço para o desenvolvimento de cada um de seus amigos, criando narrativas próprias que se entrelaçam com a do protagonista, mas existem de maneira independente. Lis, Mari, Pedro e Filipe parecem pessoas reais, que poderíamos facilmente encontrar ao longo do caminho, despertando nossa afeição a ponto de nos sentirmos como se fossem amigos de longa data. A HQ proporciona uma identificação imediata, nos transportando para os anos 2000 em sua essência. É admirável perceber hábitos, músicas e trocas de mensagens que nos enchem de nostalgia, estabelecendo uma conexão direta com nossa versão adolescente que viveu aquela época. Um verdadeiro deleite visual. E como se toda essa nostalgia não fosse suficiente, Arlindo transborda uma doçura incrível, que se reflete nas ilustrações vibrantes e encantadoras, tornando-se única desde o primeiro momento.

Embora enfrentemos inúmeras adversidades ao longo do caminho, há uma verdade universal que se impõe: no final, tudo o que realmente temos somos nós mesmos, e é por isso que vale a pena lutar por cada segundo das nossas vidas. Arlindo consegue manter uma doçura incontestável, sem perder a conexão com uma realidade nua e crua, se mostrando como um marco literário que revela todo o caos presente na descoberta e aceitação de quem somos. A obra transmite suas mensagens com maestria e deveria ser lida por todos, para que o mínimo de empatia floresça até nós mas duros dos corações.

“Eu não tô errado em existir!!”

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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